quarta-feira, 24 de março de 2010













CANDOMBLE


Apresentação
A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada ainda neste sentido. Isto explica muitas coisas. Vejamos. O negro foi arrancado de sua terra e vendido como uma mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto; de sua terra ele partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos encontraram um solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia - exigia ser expresso. Surgiram os cultos (onilé – confundidos mais tarde com o culto do Caboclo, uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos.

Os trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam acima de tudo, a resistência, a organização dos negros. A cultura africana sobreviveu para o negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se escreveu, a resistência negra. Resistiu-se por haver organização. A organização consigo mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá protetor.

No meio dos objetos traficados (os escravos) haviam jóias raras: Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a África no Brasil. Esta mágica, esta organização reestruturante só é possível de ser entendida se pensarmos no que é a iniciação , todo processo que implica e estabelece. A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por Iaôs recém saídos das camarinhas, dos roncós.

A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a forma dos terreiros de candomblé (religião de negros yorubá como é definido no Dicionário de Aurélio Buarque). Era coisa de negros, portanto escusa, ignorante, desprezível e rapidamente traduzida como coisa ruim, coisa do diabo, bem e mal, certo e errado, branco e preto.

Antagonismos opressores, sem possibilidades alternativas. O negro resolveu tentar agir como se fora branco, para ser aceito. Ele dizia: - meu Senhor, a gente tá tocando para Senhor do Bomfim, seu Santo, nhô! Não é para Oxalá, quer dizer, Oxalá é o Pai Nosso, é o mesmo que Senhor do Bomfim. Sincretismo. Forma de resistência que criou grande onus, severas cicatrizes desfiguradoras. O processo social, a dinâmica é implacável. A imobilidade não se mantém. O filho do africano já dizia que não confiava em negro brasileiro (o sìgìdì, por exemplo, um encantamento de invisibilidade e criação de elemental, não foi ensinado). Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a pequenos torrões, o candomblé era eficaz; o Senhor procurava a negra velha para fazer um feitiço, para que lhe desse um banho de folha, lhe desse um patuá. Proliferação de terreiros. Massificação, turismo, folclore
Mas os grandes iniciados, iguais àqueles criadores da terra africana no Brasil, ainda existem. Odé Kayode – Mãe Stella de Oxossi , em 1983, dizia: "Iansã não é Santa Bárbara", e explicava. Mostrou que candomblé não era uma seita, era uma religião independente do catolicismo. A terra tremeu; algumas pessoas falavam: "- sempre fomos à missa, sempre a última benção, depois da iniciação, era na Igreja, fazemos missa de corpo presente quando alguém morre, não pode mudar isso". Era a tradição alienada versus a revolução coerente, era a quebra do último grilhão.

A represa foi quebrada e as águas fertilizaram os campos quase estéreis da sobrevivência. O negro é livre. Veio da África, tem uma história, tem uma religião igual à qualquer outra e ainda, não é politeista, é monoteista: acima de todos os Orixás está Olorum. Nina Rodrigues conta que uma vez perguntou a um Babalorixá porque ele não recebia Olorum, já que este existia. Ouvindo a seguinte resposta: "- Meu Doutor, se eu recebesse, eu explodia".

Agora um novo limite, uma nova configuração se instala. Neste fim de século com a corrosão das instituições religiosas tradicionais, com o surgimento de novas religiões, com as doutrinas esotéricas alternativas, o candomblé, agora considerado religião, é visto também como uma agência eficiente: resolve problemas, cura doenças, acalma as cabeças. Os brancos querem ser negros, já não se ouve "o negro de alma branca", agora o privilégio é ser um branco de alma negra, ter ancestralidade, "ter enredo, história com o Santo". Mais do que nunca as Iyalorixás e Babalorixás se questionam. As armadilhas, os "caça-fugitivos" estão instalados. Tudo isto é transformado, por nós, em pinças para separar o joio do trigo, por isso estamos aqui. Dizendo o que somos, damos condição para que se perceba o que está posto e se entenda o suposto, o oposto e o aposto. Diferenciação é conhecimento, candomblé é religião, não é seita.

As Iyalorixás organizam as cabeças. O processo de organização do ori é awo (segredo). O candomblé é uma religião que trabalha com o segredo, o lado mudo do ser, o que a Olorum pertence. O candomblé organiza o fragmentado, abrindo canais de expressão para o ser humano.

Ou seja, Candomblé é uma palavra africana que significa "dança". O Candomblé propriamente dito, é uma dança religiosa, de origem africana, na qual os iniciados reverenciam ou rezam para seus Orixás. A dança é, portanto, uma invocação. É praticada principalmente por pessoas do sexo feminino, chamadas sambas. Homens também podem participar da dança, mas o bailado das sambas tem maior efeito invocador. A palavra Candomblé passou a designar o Culto dos Orixás.

Orixá, termo de origem africana designativo das forças cósmicas e vivas da natureza, divinizadas pelos homens primitivos, que as invocavam. Exemplo: os mares, as matas, os rios, o amor, os ventos etc. Orixá, portanto, é uma força de criação divina e uma manifestação de Olorum. A natureza é a manifestação material dos Orixás. Olorum, o Criador, é tudo: não tem representação nem fetiches. É infinito. É o Pai da criação universal. Corresponde, pois, à idéia de Deus.

Histórico

Os primeiros negros que foram trazidos da África para o Brasil, como escravos, provinham de Angola e do Congo. Pertenciam à família banto, ou bantu, da raça negra. Estes já tinham praticamente perdido seus costumes, língua e cultos religiosos, quando se iniciou, no século XVIII, com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, e para ajudar na lavra do metal, o chamado resgate de prisioneiros de guerra, da Costa da Mina de São Jorge, no litoral norte do Golfo de Guiné, na região onde se encontram a Costa do Ouro, a Costa do Marfim, a Costa dos Escravos, e onde se criaram os modernos estados da Nigéria, do Daomé, de Togo, da Costa do Marfim e da Gana.

Estes "negros da Costa", que eram desembarcados na cidade do Salvador, então capital do Brasil, e próxima à Costa da Mina, pertenciam a muitas tribos ou "nações" importantes, algumas de adiantado grau de cultura, como os minas, jejês, axantis, fulas, mandingosmandingos, lauças (quer eram maometanos), e os iorubás, também chamados nagôs. E foi principalmente dos cultos iorubás que surgiu no Brasil o Candomblé, ou Culto dos Orixás.

Havia, de parte dos senhores, das autoridades e da Igreja, um zelo natural pela conversão dos africanos ao catolicismo, sendo considerado um dever cristão receberem os mesmos a doutrina, serem batizados e levados à prática da religião católica.

Com o objetivo de evitar choques com as autoridades, sem deixar de preservar na prática do seu culto, os africanos dissimulavam seus otás colocando sempre à frente deles a imagem de um santo católico que mais se aproximasse - segundo interpretações individuais - das características do Orixá cultuado. Nasceu, com isto, um grande sincretismo dos Orixás com os santos da Igreja. A falta de sistematização com que se realizou esse ajustamento muito concorreu para que surgissem as discrepâncias hoje constatáveis. Assim é que diferentes santos da Igreja são sincretizados num mesmo Orixá.

Não admira, pois, que tenha o culto, evoluindo por sobre tantos obstáculos, se vestido das variações que hoje apresenta. Consideramos mesmo um milagre, maravilhoso milagre, não haja registrado o desdobrar dos tempos o mais leve desgaste na permanência do Culto dos Orixás.

Hoje, porém, graças aos esforços dos fiéis e ao desenvolvimento dos meios de comunicação, que vem possibilitando um intercâmbio amplo entre os praticantes das diversas "nações", as práticas se vão apurando constantemente. Isso devolverá, sem dúvida, ao Candomblé a pureza e o vigor de suas origens e contribuirá para integrar numa só trilha ritualística todos os irmãos de santo.
É bom lembrar sempre que o iorubá é a língua dos Orixás, originário da Nigéria, África Ocidental. A palavra Orixá significa Ministro de Olorum.

O idioma iorubá enquadra, entre outros, os povos Ijexá, Ketu e etc. Dos iorubás pertencem os Orixás Exu, Xangô, Oxum, Iansã, Obaluauê e outros.

Sua importância é muito significativa, pois saberemos compreender cada cântico do Candomblé. Para maior compreensão do idioma iorubá, deve-se conhecer os pronomes, os verbos e etc.

Os orixás

Todos os seres humanos nascem da natureza, num determinado lugar, dia e hora, sob o comando de um Orixá. Assim, claro está que receberam a influência desse Orixá e, portanto, cada um terá em toda a sua vida as vibrações e proteção do Pai Orixá a que está vinculado, de origem natural, o qual rege seu destino.

Os Orixás incorporam nos médius (iaôs) sob a condição vibratória. Chama-se esse transe virar para o santo. A primeira vez que ocorre com uma pessoa, denomina-se bolar para o santo.

A incorporação do Orixá, sendo vibratória, não transmite mensagens orais, como sucede com a incorporação de espíritos desencarnados (chamados, no Candomblé, de eguns) e com os encantados.

O culto, no Candomblé, é feito exclusivamente aos Orixás. É grande o número de Orixás. Conhecem-se os mais cultuados, mas outros surgem, revelando-se aos poucos. Apresentamos a seguir alguns orixás, não por ordem de importância, pois tal ordem é desconhecida; existem, naturalmente, predileções pessoais, mas entre os Orixás não há hierarquia.

Eis os mais generalizadamente cultuados:

Masculinos Femininos
Exú Iansã
Ogun Oxum
Oxóssi Yemanjá ...



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